Quando estou aplicando um treinamento ou ministrando Curso de Dinâmica de Grupo ou de Relacionamento Interpessoal, costumo realizar uma dinâmica muito interessante chamada “Bola no Lixo” para mostrar às pessoas que nem sempre os nossos discursos condizem com nossas ações.
Primeiro divido a turma em dois grupos e nomeio-os de “Equipe A” e “Equipe B” colocando uma à frente do outro, porém com boa distância entre eles.
Depois, distribuo uma folha de papel e peço que amassem fazendo uma bolinha.
Pego uma cesta de papel e coloco no meio das equipes, dando a entender que terão que atirar e tentar acertar a bolinha de papel dentro da lixeira.
Porém, cuidadosamente coloco a lixeira mais próxima da “Equipe A”.
Claro que todos os componentes da “B” começam a reclamar dizendo coisas como:
“-Não é justo!”
“-Queremos igualdade!”
“-Que a lixeira fique centralizada para que as chances sejam iguais!”
E, calmamente, em silêncio retiro a lixeira do lugar original e a coloco menos próxima da “Equipe A”, mas não ainda no centro. Ainda favorecendo esse primeiro grupo.
A reclamação recomeça…
Peço, então, que eles definam “onde” deve ficar realmente a lixeira.
Alguns membros contam passo, discutem se ajustam…e finalmente a lixeira é colocada num determinado ponto “x”, para alegria e satisfação de todos.
Resolvida a questão, solicito que apenas a “Equipe A” tente acertar e que todos tentem jogar a bola no lixo ao mesmo tempo.
Alguns acertam, outros erram. Contabilizo os acertos e parto para o outro grupo.
Porém, pego a lixeira e passo de mão em mão para que “coloquem” dentro suas bolinhas, ou seja, TODOS acertam e dou como vencedora a “Equipe B”, para desespero do grupo adversário.
Convido todos a se sentarem e só aí então começa efetivamente a conclusão da dinâmica. Pergunto o que sentiram ao realizar a atividade. Começo perguntando aos participantes do grupo A.
Ouço reprovações e até ofensas do tipo: -você roubou no jogo! Ouço censuras quanto ao meu comportamento de “facilitar” a vitória do oponente.
E aí, então, pergunto por que não houve a mesma reclamação quando no início tentei deixar a lixeira mais perto deles e mais distante da outra equipe?
Será que a palavra “injustiça” só se aplica quando a vítima somos nós?
Nesta dinâmica podemos fazer um paralelo com a vida real.
Na empresa, quantas vezes não temos situações de favorecimentos… Aquele líder que favorece mais a um funcionário que a outro por simples simpatia, ou repassa trabalhos mais pesados para uns e não para outros.
Na TV assistimos artistas que ganham fortunas fáceis jogarem suas vidas pelos ralos…
E principalmente, olhar para o passado e constatar quantas barreiras conseguimos vencer… Vitórias suadas, lutas diárias, conquistas… que damos muito mais valor.
Mas e a “Equipe B”? Você pode estar se perguntando agora.
Será que também houve injustiça para com eles?
Será que estão satisfeitos com a vitória?
Por que não reclamaram na hora da vitória como fizeram no início da tarefa?
Fora uma ou outra exceção, a maioria não está feliz.
Porque, simplesmente, eu tirei a oportunidade deles, quando dei a lixeira na mão, de saberem se seriam capazes de acertar ou não.
E isto nunca mais eles irão descobrir porque “aquela” oportunidade já passou. Outras poderão até vir. Mas não mais aquela…
Um Abraço a todos e fiquem bem…
Sobre a autora:
Rita Alonso: Professora de Recursos Humanos da Universidade Estácio de Sá há 20 anos. Instrutora dos Cursos do SEBRAE, SENAC e SESC. Funcionária há 25 anos da Riotur/Controladoria Geral do Município. Desenvolve trabalhos de consultoria organizacional, ministra treinamentos e palestras motivacionais.