21 de set. de 2010

Hospital adota terapia alternativa para ajudar a tratar câncer


Meditação, ioga e acupuntura são algumas das práticas usadas no Albert Einstein; modelo é chamado de medicina integrativa
Técnicas já são adotadas em hospitais de referência em oncologia nos EUA e podem melhorar a qualidade de vida dos pacientes

O Hospital Israelita Albert Einstein incluiu práticas como meditação, ioga, acupuntura e reiki no tratamento do câncer. O modelo, chamado de medicina integrativa, é semelhante aos adotados em instituições de referência internacional em oncologia, como o M.D. Anderson e o Memorial Sloan-Kettering Center, nos EUA.
A inclusão dessas técnicas, até bem pouco tempo desacreditadas na área médica, tem sido motivada pela grande demanda de pacientes que procuram por tratamentos complementares quando têm um diagnóstico de câncer. Além disso, atualmente, há vários estudos controlados demonstrando a eficácia e a segurança delas.
No último congresso mundial de câncer, no início do mês, em Chicago (EUA), estudos demonstraram que a acupuntura, por exemplo, pode reduzir as náuseas da quimioterapia e aliviar a xerostomia (boca seca), provocada pela radioterapia na região da cabeça e pescoço.
No Einstein, as práticas são oferecidas a pacientes que acabaram de receber o diagnóstico de câncer, que estão em tratamento ou que já terminaram. O cirurgião Paulo de Tarso Lima, responsável pela área de medicina integrativa, diz que as técnicas são adotadas mediante evidências científicas de que funcionam e de que não prejudicarão a terapia convencional.
Lima estima que 70% dos pacientes não contam aos médicos que adotam práticas complementares (no passado chamadas de alternativas) ao tratamento convencional -seja por não serem questionados a respeito ou por temor de que os médicos desaprovem a técnica.
"Usar essas práticas sem a orientação de um profissional é um risco à saúde. A fitoterapia, se utilizada de forma incorreta, pode interferir e prejudicar o tratamento do câncer", afirma.
Quando bem indicadas, muitas das técnicas complementares são úteis para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e suas respostas aos tratamentos clínicos. "O objetivo é que eles ajudem, e não atrapalhem, a recuperação", diz Lima.
A ioga, por exemplo, ajuda a diminuir a ansiedade, o medo e os pensamentos negativos, explica o psiquiatra Rodrigo Yacubian Fernandes, que aplica os princípios da kundalini yoga entre os pacientes oncológicos. A prática também vem sendo usada como tratamento coadjuvante de distúrbios psiquiátricos e psicológicos.
A empresária Maria do Rosário, 50, luta há três anos contra o câncer. Já retirou parte do intestino, os dois ovários e, agora, faz quimioterapia a cada 15 dias para combater um tumor no pulmão. Por conta dos efeitos colaterais do tratamento, ela também sofre de uma neuropatia que a levou à perda da sensibilidade nas mãos e nos pés.
Para manter o equilíbrio e controlar a ansiedade, ela faz reike, acupuntura e meditação. O Reiki é uma técnica que usa a imposição de mãos para transmissão de energia vital e desbloqueio do fluxo energético, segundo os terapeutas. "Essas práticas me relaxam, especialmente quando tenho que passar horas fazendo exames."
Ela conta que ao descobrir o câncer "ficou de mal com Deus". "Entrei numa depressão incontrolável. Hoje, conto primeiro com Deus, porque tenho muita fé, e depois com todas essas pessoas, tratamentos e práticas que me ajudam a dar uma sobrevida melhor", diz Maria.
Além dos aspectos emocionais, a empresária notou melhoras físicas. "Antes, fazia quimio e era um dia no pronto-socorro e o outro também. Era uma loucura. Há quase um ano que eu não preciso mais ir ao pronto-socorro por conta dos efeitos do tratamento."

Claúdia Collucci
Folha de S.Paulo


20 de set. de 2010

Transito Causa Dor, Estresse e Varizes

O trânsito complicado pode provocar dores musculares, estresse, crises respiratórias. Saiba evitar
A distância de 30 quilômetros foi percorrida em 3horas e 4 minutos. Durante todo o trajeto, em velocidade tartaruga, o médico ortopedista Rubens Rodrigues não apenas lamentou o congestionamento que separava a sua casa do aeroporto como também abria e fechava as mãos, esticava os braços para cima e girava os pés repetidas vezes.
A “coreografia” dentro do veículo é só uma das dicas para evitar os males dos engarrafamentos, que vão além do estresse. Nos últimos 10 anos, segundo os dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) surgiram, em média, 165 mil novos carros. O crescimento da frota na década foi de 103%, bem maior do que o aumento populacional no mesmo período, de 17,1% (mostram os dados do IBGE).
O descompasso entre veículos, pessoas e espaço físico fez com que o problema do trânsito parado deixasse de ser um privilégio só de São Paulo e fosse exportado para as principais capitais do País. Prova disso é uma pesquisa encomendada pelo Ministério do Meio Ambiente que detectou poluição veicular acima dos padrões seguros ditados pela Organização Mundial de Saúde não apenas na atmosfera paulista, como também em Recife, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Curitiba.
Delas conversou com especialistas para saber como amenizar os principais problemas de saúde trazidos pelo tráfego congestionado.
Dores nas costas

Foto: Getty Images
Dores

Pela janela do carro você olha, com piedade, as pessoas que se apertam no ônibus, espremidas e em pé. Antes de ter pena, o médico do Instituto de Ortopedia de São Paulo (IOT) faz um alerta.
“Para a coluna, não há mal pior do que o aparente conforto dos automóveis. Ficar sentado por mais de uma hora é o suficiente para desencadear dores lombares e cervicais”, afirma Rubens Rodrigues.
Por isso, durante o trajeto, ele orienta a esticar os braços, como se estivesse se espreguiçando. “Um único percurso por trânsito congestionado é suficiente para provocar um microtrauma nas costas. O acúmulo pode desencadear um problema crônico. Por isso, além de mexer os braços, é importante fazer alongamento ao sair do carro”, orienta o especialista.
Problemas de circulação
Outro impacto imediato é na saúde das pernas, pés e aparelho circulatório. A ausência de movimentos, faz com que o sangue tenha mais dificuldade para percorrer o organismo. As varizes não são as únicas sequelas. Embolias, em casos mais severos, também podem ser um efeito colateral.
O presidente do Sindicato de Taxistas de Porto Alegre, Luiz Nozari, diz que a situação é tão preocupante que na capital gaúcha a entidade já fez parceria com a associação de cirurgiões vasculares para conscientizar sobre o problema.
“Não há nada mais grave do que sair do banco do carro e ir direto para o sofá. Sempre preconizamos o exercício físico após o trânsito e, como cada pessoa tem um limite, a sugestão mais democrática é a caminhada”, sugere Nozari.
Comparar a rotina de um taxista, que fica no trânsito uma média de 12 a 14 horas por dia, com a de uma pessoa que não trabalha na praça não é um exagero. Isso porque, grande parte dos trabalhadores do País, antes de pegar a maratona engarrafada, fica horas sentado em frente ao computador, em um escritório, na sala de aula ou em reunião. Por isso, além de movimentar as pernas e caminhar após o trânsito, uma boa dica é beber muito líquido durante o dia, receita básica para quem quer amenizar os problemas circulatórios.


Em um congestionamento, não faltam gatilhos para a dor de cabeça, explica Carlos Bordini, presidente da Sociedade Brasileira de Cefaléia.Dores de cabeça e estresse
“Ansiedade por não querer chegar atrasado ao compromisso, raiva por ter de pegar trânsito mais uma vez, poluição e barulho potencializam as crises de enxaqueca e de dores de cabeça”, explica o neurologista.
Segundo o médico, estes fatores não causam a dor de cabeça, mas evidenciam que a pessoa é suscetível à doença. “Neste caso, a ocasião não faz o ladrão mas o revela”, compara. “Como hoje os congestionamentos tornaram-se problemas inevitáveis é importante que a pessoa tenha mecanismos de controle de estresse. Cada um tem o seu, mas existem os universais como ioga e meditação”, diz.
Em situações estressantes, afirmam os especialistas, a respiração também é prejudicada, o que influencia a circulação e as dores cabeça. Inspirar e expirar profundamente ajuda a melhorar o quadro. O taxista Luiz Nozari sugere ainda aproveitar a paisagem, que às vezes fica escondida no congestionamento.
Poluição e problemas respiratórios
Os escapamentos dos automóveis estão a todo vapor do lado de fora. A sensação é de que dentro do carro estaremos mais protegidos dos gases tóxicos. Engano. O Laboratório de Poluição da USP já fez medições com um aparelho especializado, chamado monoxímetro, e constatou que no interior dos veículos a poluição chega a ser 30% maior do que às margens das grandes avenidas de São Paulo.
Fechar os vidros e ligar o ar-condicionado nem sempre é uma boa opção, já que a implicação imediata dos gases em excesso é a debilitação do aparelho respiratório, também prejudicado pela atmosfera resfriada.

A solução neste caso não é simples. Os especialistas orientam que a melhor maneira é optar por outras formas de locomoção antes de priorizar o transporte individual. Ainda que a falta de ônibus, metrô e vans públicas de qualidade pareça incentivar o uso dos automóveis, o excesso de carros que prejudica os pulmões provoca um ciclo de doenças que começam pelo trato respiratório, cardiovascular e até depressivo. Pesquisa do Instituto do Coração (Incor) já mostrou inclusive que a poluição veicular potencializa infartos, acidentes vasculares cerebrais e diabetes.“A alta concentração dos poluentes nos centros urbanos associada à baixa umidade leva a irritação e inflamação das mucosas respiratórias e as pessoas já portadoras de doenças respiratórias crônicas (asma, bronquite, rinite) têm maior tendência a apresentar crises”, explica o pneumologista Mauro Gomes, membro da comissão de Infecções Respiratórias da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia em material divulgado pela entidade.